Pesquisa em Ciências Humanas: Práticas de Resistência na Educação Profissional e Tecnológica
Sinopse
Nos últimos anos, deparamo-nos com o avanço de projetos políticos voltados às questões educacionais que visam diminuir a relevância das Ciências Humanas, tanto no campo da pesquisa quanto no ensino. Dentre eles, encontramos propostas que vão desde a diminuição da carga horária de componentes curriculares, como filosofia e sociologia, à inibição das discussões, como sobre gênero e sexualidade. Além disso, defrontamo-nos, constantemente, com um número cada vez menor de bolsas destinadas às pesquisas em Ciências Humanas, em detrimento a outros campos dos saberes. Diante desse contexto, surge a proposta deste livro. Enquanto professores e pesquisadores de um Instituto Federal, que tem entre os seus propósitos e compromissos a formação humana, integral e cidadã, interligada ao mundo do trabalho, da ciência e da cultura, apresentamos a importância das pesquisas em ciências humanas na Educação Profissional e Tecnológica.
Entre 2008 e 2017, os brasileiros colocaram o país como um dos maiores produtores de ciência do mundo. Em média, 67,3% das publicações em revistas especializadas, em todas as áreas do conhecimento, foram nesses anos. No mesmo período, as ciências sociais aplicadas, a linguística e as humanidades cresceram mais rapidamente; as ciências sociais aplicadas tiveram um aumento de 77% em suas publicações, a linguística, 106% e as humanidades, notoriamente, apresentaram um aumento de 123,5%.
Apesar da ascensão das humanidades no campo da pesquisa no Brasil, no Instituto Federal do Paraná (IFPR), instituição cujos projetos científicos publicados neste livro foram/são desenvolvidos, os investimentos estão, majoritariamente, destinados às outras ciências ditas das áreas da tecnologia e inovação, herança de uma educação tecnicista, voltada ao mercado de trabalho. Podemos tomar como exemplo a edição de 2020 do edital de distribuição de bolsas para iniciação científica, dos 233 projetos classificados, 61 foram em ciências sociais aplicadas, humanidades e linguística (20 para o Ensino Superior - PIBIC2, e 41 para o Ensino Médio - PIBIC Jr.). Quarenta e um projetos foram contemplados com bolsa (10 na modalidade PIBIC e 31 na PIBIC Jr.). No entanto, é importante destacarmos a colocação desses projetos no edital supracitado. Na classificação, as ciências humanas aparecem no PIBIC a partir da 13ª posição e no PIBIC Jr. , na 7ª posição, e os demais somente a partir da 93ª posição. São cerca de 142 bolsas distribuídas, destinadas, em sua grande maioria, aos projetos de tecnologia e inovação. Diante desses números, a proposta do nosso livro se constrói sob uma perspectiva de resistência em face dos desafios que os pesquisadores das humanidades encontram para realizar suas pesquisas nos espaços de Educação Tecnológica e Profissional.
Assim, apresentamos neste livro alguns projetos de pesquisa com êxito, desenvolvidos no IFPR, Campus Campo Largo, a fim de compartilhar a nossa práxis, enquanto docentes e pesquisadores da área de humanas, de forma indissociável do processo de ensino e aprendizagem, bem como visibilizar a nossa resistência e luta na área da pesquisa científica perante a atual conjuntura de sucateamento que perpassa a ciência e a educação pública do nosso país para atender a uma agenda neoliberal.
Este livro apresenta, em seus capítulos, propostas que versam sobre as experiências de pesquisas voltadas ao Ensino Médio Integrado, projetos de extensão e formação de professores. Tais pesquisas, trazem uma perspectiva interdisciplinar, a exemplo do texto de Natan Fraga sobre a desconstrução dos estereótipos latino-americanos a partir de uma análise sociocultural da Venezuela, da pesquisa de Samuel Wiedemann, ao abordar a importância da presença da inclusão social, econômica e
cultural nos projetos pedagógicos de curso do Ensino Médio Integrado do Instituto Federal do Paraná e do artigo de Angélica Colombo, que entrecruza os pressupostos da ética para as pesquisas no âmbito da saúde. A interface da saúde é, também, abordada no capítulo de Júlia Oliveira, ao discorrer sobre a presença feminina no mundo do trabalho e da ciência, a partir da pesquisa de um tratado médico do período medieval. A possibilidade de usar diferentes fontes e abordagens para a compreensão da História e a importância de articular as relações étnico-raciais à formação integral dos estudantes são apresentadas nos relatos de experiência dos projetos desenvolvidos por Fábio Cruz.
Em um momento em que nossos espaços estão cada vez menores e o apoio ao nosso campo de atuação tem perdido forças, com cortes e limitações, torna-se imperativo demonstrarmos a importância das ciências humanas para a formação integral dos estudantes e dos docentes e, para as discussões em sociedade - frentes de atuação dos Institutos Federais. Por isso, mesmo diante de tais adversidades, continuaremos resistindo e lutando. Acreditamos que a presença das ciências humanas na educação, no ensino e na ciência são pilares essenciais para a mudança deste momento tenebroso do Brasil.
Angélica Aparecida Antonechen Colombo
Júlia Glaciela da Silva Oliveira
Natan Gonçalves Fraga