Pesquisa em Ciências Humanas: Práticas de Resistência na Educação Profissional e Tecnológica

Autores

Angélica Aparecida Antonechen Colombo
Instituto Federal do Paraná
Júlia Glaciela da Silva Oliveira
Instituto Federal do Paraná
Natan Gonçalves Fraga
Instituto Federal do Paraná

Sinopse

Nos últimos anos, deparamo-nos com o avanço de projetos políticos voltados às questões educacionais que visam diminuir a relevância das Ciências Humanas, tanto no campo da pesquisa quanto no ensino. Dentre eles, encontramos propostas que vão desde a diminuição da carga horária de componentes curriculares, como filosofia e sociologia, à inibição das discussões, como sobre gênero e sexualidade. Além disso, defrontamo-nos, constantemente, com um número cada vez menor de bolsas destinadas às pesquisas em Ciências Humanas, em detrimento a outros campos dos saberes. Diante desse contexto, surge a proposta deste livro. Enquanto professores e pesquisadores de um Instituto Federal, que tem entre os seus propósitos e compromissos a formação humana, integral e cidadã, interligada ao mundo do trabalho, da ciência e da cultura, apresentamos a importância das pesquisas em ciências humanas na Educação Profissional e Tecnológica.

Entre 2008 e 2017, os brasileiros colocaram o país como um dos maiores produtores de ciência do mundo. Em média, 67,3% das publicações em revistas especializadas, em todas as áreas do conhecimento, foram nesses anos. No mesmo período, as ciências sociais aplicadas, a linguística e as humanidades cresceram mais rapidamente; as ciências sociais aplicadas tiveram um aumento de 77% em suas publicações, a linguística, 106% e as humanidades, notoriamente, apresentaram um aumento de 123,5%.

Apesar da ascensão das humanidades no campo da pesquisa no Brasil, no Instituto Federal do Paraná (IFPR), instituição cujos projetos científicos publicados neste livro foram/são desenvolvidos, os investimentos estão, majoritariamente, destinados às outras ciências ditas das áreas da tecnologia e inovação, herança de uma educação tecnicista, voltada ao mercado de trabalho. Podemos tomar como exemplo a edição de 2020 do edital de distribuição de bolsas para iniciação científica, dos 233 projetos classificados, 61 foram em ciências sociais aplicadas, humanidades e linguística (20 para o Ensino Superior - PIBIC2, e 41 para o Ensino Médio - PIBIC Jr.). Quarenta e um projetos foram contemplados com bolsa (10 na modalidade PIBIC e 31 na PIBIC Jr.). No entanto, é importante destacarmos a colocação desses projetos no edital supracitado. Na classificação, as ciências humanas aparecem no PIBIC a partir da 13ª posição e no PIBIC Jr. , na 7ª posição, e os demais somente a partir da 93ª posição. São cerca de 142 bolsas distribuídas, destinadas, em sua grande maioria, aos projetos de tecnologia e inovação. Diante desses números, a proposta do nosso livro se constrói sob uma perspectiva de resistência em face dos desafios que os pesquisadores das humanidades encontram para realizar suas pesquisas nos espaços de Educação Tecnológica e Profissional.

Assim, apresentamos neste livro alguns projetos de pesquisa com êxito, desenvolvidos no IFPR, Campus Campo Largo, a fim de compartilhar a nossa práxis, enquanto docentes e pesquisadores da área de humanas, de forma indissociável do processo de ensino e aprendizagem, bem como visibilizar a nossa resistência e luta na área da pesquisa científica perante a atual conjuntura de sucateamento que perpassa a ciência e a educação pública do nosso país para atender a uma agenda neoliberal.

Este livro apresenta, em seus capítulos, propostas que versam sobre as experiências de pesquisas voltadas ao Ensino Médio Integrado, projetos de extensão e formação de professores. Tais pesquisas, trazem uma perspectiva interdisciplinar, a exemplo do texto de Natan Fraga sobre a desconstrução dos estereótipos latino-americanos a partir de uma análise sociocultural da Venezuela, da pesquisa de Samuel Wiedemann, ao abordar a importância da presença da inclusão social, econômica e
cultural nos projetos pedagógicos de curso do Ensino Médio Integrado do Instituto Federal do Paraná e do artigo de Angélica Colombo, que entrecruza os pressupostos da ética para as pesquisas no âmbito da saúde. A interface da saúde é, também, abordada no capítulo de Júlia Oliveira, ao discorrer sobre a presença feminina no mundo do trabalho e da ciência, a partir da pesquisa de um tratado médico do período medieval. A possibilidade de usar diferentes fontes e abordagens para a compreensão da História e a importância de articular as relações étnico-raciais à formação integral dos estudantes são apresentadas nos relatos de experiência dos projetos desenvolvidos por Fábio Cruz.

Em um momento em que nossos espaços estão cada vez menores e o apoio ao nosso campo de atuação tem perdido forças, com cortes e limitações, torna-se imperativo demonstrarmos a importância das ciências humanas para a formação integral dos  estudantes e dos docentes e, para as discussões em sociedade - frentes de atuação dos Institutos Federais. Por isso, mesmo diante de tais adversidades, continuaremos resistindo e lutando. Acreditamos que a presença das ciências humanas na educação, no ensino e na ciência são pilares essenciais para a mudança deste momento tenebroso do Brasil.

 

Angélica Aparecida Antonechen Colombo
Júlia Glaciela da Silva Oliveira
Natan Gonçalves Fraga

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Publicado

6 July 2022