Programa Arte Flamenca: 7 anos de 107,7

Autores

Mariám Trierveiler Pereira
Instituto Federal do Paraná

Sinopse

Em 2010, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) declarou o flamenco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Essa ação consolidou o flamenco como arte globalizada, não mais restrita à Espanha. Oficialmente, ele faz parte, desde então, da história da antropologia.

O conceito de ‘cultura’, entretanto, não é tarefa simples, havendo muitas definições e controvérsias. De forma prática, o termo pode ser encontrado em dicionário com as seguintes ideias:

 [...] O conjunto de características humanas que não são inatas, e que se criam e se preservam ou aprimoram através da comunicação e cooperação entre indivíduos em sociedade. Como ações sociais seguem um padrão determinado no espaço. Compreendem as crenças, valores, instituições, regras morais que permeiam e identificam uma sociedade. Explicam e dá sentido à cosmologia social. É a identidade própria de um grupo humano em um território e num determinado período... (FERREIRA, 2014).

De forma ainda mais objetiva, antropologicamente a ‘cultura’ pode ser o antônimo de ‘natural’, colocando o ser humano como construtor de uma realidade material e imaterial que ordena suas relações. Inúmeros trabalhos estabelecem um diálogo entre conceitos antropológicos, sociais e psicológicos e trazem luz a essa discussão, como Morgado (2014), Porto (2011), Canedo (2009) e Mintz (2009).

Como o debate existente a respeito dessa concepção e abstração é intenso, vamos nos ocupar dos desdobramentos concretos da cultura, como a arte e a educação, com recorte na cultura flamenca.

A arte é fundamental para o desenvolvimento do ser humano e sua completa formação como agente transformador da realidade, como defende Oliveira (2017). Como permeia vários tipos de inteligências, definidas por Gardner (1994) e Antunes (2008), é possível tornar a arte presente na educação como forma de pesquisa, experiência de abertura sensível e cognitiva para o outro, compreensão e transformação de si e do mundo, como mostram Fritzen e Moreira (2008). Esses autores defendem a ideia de que a educação contemporânea deve inserir em seu meio linguagens múltiplas para a formação do sujeito. Pressupõe-se que as artes, ao alcance de todos, “propiciam condições para um olhar que vê mais do que se suponha ser visível” (Fritzen e Moreira, 2008, p. 8).

Com essa visão, o programa Arte Flamenca, produzido e apresentado pela Rádio Universitária Paranaense, RUP FM 107,7, nasceu da produtiva parceria entre o Instituto Federal do Paraná (IFPR) com a Fundação Cândido Garcia, da Universidade Paranaense (Unipar). A ideia surgiu como projeto de extensão, chamado IFPRádio, que pertencia ao programa Faça Arte no IFPR, cujo objetivo maior era agregar projetos com intenção de produção e difusão artística e cultural.

O IFPR se instalou em Umuarama (PR), em 2010, com cursos técnicos e diretriz de expansão, a longo prazo, para cursos técnicos integrados, Educação de Jovens e Adultos, licenciaturas, bacharelados, mestrados e doutorados. Tão logo foi possível, iniciou-se a elaboração de projetos de extensão e parcerias. Essas atividades são fundamentais para uma instituição pública, pois, normalmente, as diversas formas de expressão artística e cultural de qualidade e de acesso gratuito são privilégios de grandes centros.

Na procura por parceiros para atender ao objetivo do projeto de difundir o flamenco para a população em geral, chegou-se à RUP FM 107,7, uma rádio universitária, mantida pela Fundação Cândido Garcia, com programas culturais diversificados, como MPB, blues, samba, rock, música alternativa, música instrumental, entre outros, voltados para um público jovem e diversificado. Nesse sentido, o programa contribuiu para ampliação das opções de acesso à arte e à cultura flamenca para a população em geral. Além disso, também auxiliou na divulgação dos projetos de dança e cinema oferecidos pelo IFPR, de forma gratuita para a população, no Centro Cultural Vera Schubert, em Umuarama.

Para articulação do projeto de extensão com a pesquisa e o ensino, elementos básicos na educação, cada programa foi elaborado com comentários sobre a história do flamenco, a geografia da península Ibérica, a gastronomia da Espanha, a biografia de artistas e as curiosidades sobre as culturas que formaram ou transformaram o flamenco, como árabe, indiana, judia, celta, turca, latina etc.

Como produtos culturais dos sete anos de programas de radiodifusão, destacam-se:

  • a produção do CD “As 100 melhores do programa Arte Flamenca”, em dois volumes, em 2011; 
  • a produção do CD “Programa Arte Flamenca 2012 – Máriam Trier e Convidados”, em 2012; 
  • a elaboração e a apresentação de trabalho em forma de painel no 2º Seminário de Extensão, Ensino, Pesquisa e Inovação (SE²PIN) do IFPR, em Paranaguá, em 2013; 
  • a produção do CD “Movimentando os Segredos da Alma”, em comemoração aos cinco anos da Cia de Dança IFPR Schubert, em 2015; 
  • a elaboração e a apresentação oral de trabalho no 35º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul (SEURS), em Foz do Iguaçu, em 2017; 20 Programa Arte Flamenca: 7 Anos de 107,7 
  • a edição de áudio dos espetáculos da Cia de Dança IFPR Schubert: “Os Amores de Carmen” (2014), “Movimentando os Segredos da Alma” (2015), “Emociones Flamencas” (2016), “Hoje é Arte-feira” (2016), “Misturança” (2017), “Em Passos & Versos” (2018) e “A Vida é uma Dança” (2019).

Para elaboração desse livro foram utilizados os setenta e cinco programas originais gravados ao longo de sete anos de pesquisas. Os programas foram agrupados por temas para uma leitura mais didática. Dessa forma, o objetivo deste livro foi descortinar os mistérios do flamenco por meio de músicas, da mesma forma como foi para os ouvintes do programa “Arte Flamenca”.

A metodologia de pesquisa bibliográfica apoiou-se em Campoy (2014), que aponta a internet como a mais importante fonte de referência e pesquisa para a difusão e os estudos sobre flamenco. Segundo a autora, a bibliografia flamenca ainda é restrita ao ambiente espanhol e, no Brasil, há pouco registro sobre essa arte, sobretudo em forma de artigos acadêmicos e resumos em eventos científicos. Dessa maneira, as investigações foram feitas em sites especializados e reconhecidos em flamenco, em páginas oficiais dos artistas apresentados, em sites das prefeituras dos locais abordados e em estudos acadêmicos. As referências da webgrafia consultada não estão no texto por uma questão de dinâmica de leitura. Ao final do livro, há uma lista de todos os links consultados.

O livro foi dividido em três partes que expõem sobre a cultura flamenca, em especial sua origem, alguns renomados artistas e as cidades onde as manifestações flamencas iniciaram e se consolidaram.

Assim, no capítulo Conhecendo o Flamenco foram reunidos os programas que falam sobre essa arte sedutora, como suas origens históricas, os ritmos mais conhecidos e a divulgação do flamenco contemporâneo por meio de trilhas sonoras de filmes e misturas musicais. Obviamente, a leitura desse material não conseguirá transmitir ao leitor todo o conhecimento complexo por trás do flamenco, mas será uma faísca que poderá acender a curiosidade para uma pesquisa mais aprofundada ou para a prática da dança, canto ou toque de violão.

O capítulo Personificando o Flamenco engloba programas sobre a vida e obra de artistas flamencos. É certo que o universo flamenco conta com inúmeros astros e estrelas, porém neste livro há homenagens a cinquenta e oito destaques flamencos, sendo dezoito cantaores, dezesseis conjuntos musicais, onze bailaores, nove guitarristas, três compositores e um diretor de cinema.

No último capítulo, Viajando pelo Flamenco, foram agrupados os programas que desvelam algumas cidades espanholas, em especial as da região da Andaluzia, berço do flamenco. Nesse roteiro, estão catorze cidades do sul da Espanha, além da capital, Madri.

Ao final de cada seção, há uma lista de sugestões de músicas que dão vida ao tema abordado.

Com chavão do início do programa, partiremos para essa viagem:

“¡Hola, querido e querida ouvinte-leitor! ¿Que tal, bien? Eu sou Máriam Trier e estamos começando mais um programa ¡Arte Flamenca!




Máriam Trierveiler Pereira

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Publicado

16 April 2021