Teorias e Práticas do Ensino de Línguas no IFPR

Autores

Alessandra Bernardes Bender
Instituto Federal do Paraná
Lorena Izabel Lima
Instituto Federal do Paraná

Sinopse

Este livro é herdatário de dois grandes desafios. O primeiro diz respeito à própria natureza do ensino de línguas no Brasil, que prevê, por meio dos documentos oficiais como a Base Nacional Curricular Comum (2018) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), o cotejo às diferentes dimensões da linguagem, em seus eixos: oralidade, escuta, escrita, leitura e análise linguística e semiótica, atravessados, ainda, pelo estudo da Literatura. Se a língua é o objeto de ensino e, considerando o pressuposto nuclear da Linguística de que é o ponto de vista que cria o objeto, é necessário aos professores e pesquisadores lançarem mão de diferentes olhares para o estudo da língua a fim de derivarem subsídios que sustentem todos os eixos do ensino-aprendizagem desta área — e esse é um desafio constante. O segundo desafio diz respeito à promoção do intercâmbio das práticas de ensino de línguas no âmbito do Instituto Federal do Paraná – instituição plural e multicampi – em prol de um ensino-aprendizagem que esteja assentado, de um lado, nas pesquisas e teorias de ensino; de outro, que valorize a diversidade e especificidade de cada público e contexto em que ocorre.

Tendo em vista essas provocações, este livro busca apresentar práticas oriundas de pesquisas sobre o ensino, integrando também os diferentes campi que compõem o IFPR e foi idealizado para abarcar a multiplicidade de abordagens teóricas que, inevitavelmente, atravessam as práticas de ensino. O livro está organizado em quatro capítulos iniciais que tratam da aula de português como língua materna e um quinto capítulo que destaca o seu papel como segunda língua para surdos. Os capítulos seis a oito abordam as línguas estrangeiras, tendo maior destaque a língua inglesa e a língua espanhola, que fazem parte da maioria dos currículos dos Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio do IFPR. O nono capítulo, por fim, traz a concepção de interculturalidade, que se estende ao ensino de todas as línguas e fecha, com chave de ouro, a obra. O título do presente livro faz referência aos termos “teoria” e “prática”. No entanto, em se tratando do contexto de um Instituto Fede- ral e, consequentemente, de Educação Profissional e Tecnológica, não entendemos tais termos por meio de uma relação hierárquica. O ato de fazer deve ser compreendido, por si próprio, como um saber, visto que o trabalhador realiza suas ações por meio de um processo que envolve não só a realização física do fazer técnico, mas também uma metodologia complexa e um histórico de modelos cognitivos que orientam tal realização. No que concerne ao campo do Ensino de Línguas, entendemos que teoria e prática são domínios em constante relação: a teoria partindo de problemas da realidade em sala de aula; e a prática, por sua vez, trazendo dados a serem analisados por determinados pressupostos teóricos. Dessa maneira, trazemos, na sequência, a apresentação resumida dos capítulos, contemplando as teorias e as práticas de ensino neles desenvolvidas.

O capítulo que abre o livro, “A Semântica que não se ouve: a genericidade e a construção argumentativa em textos de estudantes”, de Lorena Izabel Lima, apresenta as discussões acerca da autoria no Ensino Médio e a presença de expressões cristalizadas, denominadas construções prototípicas. O capítulo é fruto de tese de doutorado da professora, cujos participantes foram estudantes do IFPR Campus União da Vitória. A partir de uma abordagem semântica, a autora analisa textos produzidos no gênero discursivo redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e relaciona a ocorrência de sentenças prototípicas à natureza do gênero eleito e às sequências textuais. Na sequência, a autora sugere atividades de análise linguística em prol de atividades que valorizem a gramática como recurso fundamental para desenvolver a consciência linguística e a autoria dos estudantes.

O capítulo “Marcas de Autoria no Texto Escolar – uma janela sobre a palavra do aluno”, de Juliana Pretto, também aborda a atual e problemática questão da autoria em redações do Enem, a partir da abordagem da Análise do Discurso. Para discutir a questão da autoria no texto escolar, é apresentada uma redação elaborada em contexto de sala de aula do Campus Paranaguá do IFPR, e são analisados indícios de autoria, relacionando-os às noções de estilo, com respaldo metodológico no paradigma indiciário de investigação. O texto é arrematado por uma rica reflexão acerca da noção de autoria e do ensino da escrita, apontando lacunas a serem repensadas na avaliação do ENEM e também no contexto escolar.

O capítulo “Diálogos entre Literatura e Cinema: um estudo comparativo envolvendo Policarpo Quaresma”, assinado por Alessandra Bernardes Bender e pela professora de sociologia Cybelle Martins de Lara Cardozo, trabalha discursos das esferas sociais de circulação literária e midiática com estudantes do Ensino Médio do Campus União da Vitória. O trabalho aponta e valoriza a potência das adaptações de literatura para o cinema, linguagens independentes, como fortes instrumentos de humanização e sensibilização dos estudantes. Subsidiadas pela Estética da Recepção e pelo olhar sociológico da professora Cybelle, as autoras apresentam as discussões e interpretações de estudantes acerca da adaptação da obra literária “Triste fim de Policarpo Quaresma” para a obra fílmica “Quaresma – Herói do Brasil” e refletem sobre as possibilidades de aprendizagem por meio da aproximação dessas duas linguagens, apontando possibilidades da análise semiótica, preconizada nos documentos oficiais de ensino.

O capítulo “O ethos do projeto político pedagógico do IFPR, Foz do Iguaçu: proposta didática para o ensino de língua portuguesa”, a partir da análise do discurso, desloca o olhar para os documentos que orientam a atuação do IFPR do Campus do Foz Iguaçu e propõe o trabalho de leitura com partes do documento com estudantes do Curso Técnico em Meio Ambiente, a fim de refinar e ampliar a capacidade de leitura de textos com maior complexidade, conforme preconizado pelos documentos oficiais. Nesse sentido, os autores Luciano Marcos dos Santos e Denise R. da Silva Moraes, além de analisar o ethos institucional, propõem que a leitura de documentos institucionais seja uma alternativa para abarcar o campo de atuação na vida pública.

O capítulo “Práticas de Letramento Acadêmico por Sujeitos Surdos Bilíngues” apresenta narrativas de sujeitos surdos em âmbito universitário. São transcritos depoimentos muito ricos e comoventes referentes à sua trajetória educacional e às principais dificuldades encontradas no Ensino Superior. O grupo de participantes da pesquisa é composto por surdos bilíngues, graduados, professores e com especialização na área da Educação. As autoras Josiane Junia Facundo e Ana Lúcia de Campos Almeida partem de teorias de letramento e dos conceitos de reterritorialização e de descoleção para abordarem aspectos específicos da inserção de surdos em ambientes acadêmicos.

O capítulo “O Ensino de Gramática da Língua Inglesa por meio de Mecanismos de Consciência Linguística” expõe exemplos práticos de trabalho gramatical consciente e crítico, frutos de um projeto de pesquisa voltado para uma turma do 2º ano do Curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio, do ano de 2016, do Campus União da Vitória, do Instituto Federal do Paraná. A autora Alessandra Bernardes Bender utiliza o referencial teórico do Método de Aprendizagem por Descoberta, além de orientações, diretrizes e parâmetros curriculares de língua estrangeira. O resultado é a compreensão da sala de aula de língua inglesa como um laboratório de pesquisa, em que os educandos operam com a percepção de um determinado evento gramatical, com a criação de hipóteses e com a manipulação da língua-alvo.

O capítulo “Estratégias para Compreensão Leitora em Línguas Estrangeiras” traz os resultados de um projeto de pesquisa do Campus Telêmaco Borba, do Instituto Federal do Paraná. Em sua fundamentação teórica, as autoras Kelly C. Frigo Nakayama e Katrym A. Bordinhão dos Santos discutem os conceitos de leitura e de multiletramentos, além do processo de aprendizagem de língua estrangeira. Inicialmente, o projeto verificou, por meio da aplicação de questionários, quais eram os hábitos e as técnicas de leitura mais utilizadas. Os participantes foram estudantes oriundos do 1° e dos 4° anos do curso Técnico Integrado em Automação Industrial, em 2019. Como resultados da pesquisa, as autoras apresentam uma lista de sugestões e um mapa conceitual referente às estratégias que podem auxiliar os estudantes de Língua Estrangeira em sua compreensão leitora.

O capítulo “Produção de Tiras Cômicas nas Aulas de Línguas Estrangeiras: uma proposta interdisciplinar”, de Ana Maria de Fátima Leme Tarini e Bárbara Elisa Marques, foi escrito no contexto da pandemia, tendo como objetivo promover a compreensão do processo de produção deste gênero textual nos componentes curriculares de Língua Inglesa e Língua Espanhola. A atividade foi desenvolvida com estudantes dos primeiros anos dos cursos Técnico em Administração e Técnico em Informática, ambos integrados ao Ensino Médio, do IFPR, campus Pinhais. O escopo teórico-metodológico do capítulo parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEMs), em sua defesa por uma abordagem que considere a realidade dos estudantes, sua cultura e história. Os resultados compreendem produções que retratam situações de preconceito vivenciadas pelos estudantes em seu cotidiano, tais como sexismo, gordofobia e preconceito linguístico.

O capítulo “Reflexões para o Ensino de Línguas em Contextos Multilíngues – um olhar para a fronteira” tem início com um olhar específico das peculiaridades do Campus Foz do Iguaçu, do Instituto Federal do Paraná. A situação multilíngue do campus é caracterizada, principalmente, pela presença de alunos paraguaios em sala de aula. No entanto, a autora Marcia Palharini Pessini argumenta, embasada no conceito de interculturalidade, que é importante que todos os professores de línguas evitem práticas orientadas por uma concepção monolíngue, geradora da mera reprodução cultural de um grupo dominante. Um dos exemplos inspiradores citados durante o desenvolvimento do texto, em que a orientação multilíngue foi priorizada, envolve a surpresa dos alunos paraguaios ao serem incentivados a apresentarem trabalhos orais na sua língua de preferência. Pessoalmente, gostaríamos de acrescentar, ainda, que é válida a reflexão sobre a necessidade de que professores em geral — não somente da área de línguas — também considerem este posicionamento mais aberto e flexível a outras línguas e culturas.

A partir desse panorama, podemos alegremente afirmar que este livro é fruto de um esforço coletivo dos docentes da área de linguagens e se torna possível graças ao engajamento pedagógico e científico dos servidores do IFPR. Esperamos que as leituras enriqueçam as possibilidades de atuação em sala de aula e que também promovam o intercâmbio de atividades e de diálogos entre os autores, seus pares e a comunidade acadêmica. Agradecemos a todos os colaboradores desta obra, professores, alunos, servidores e à Editora do IFPR. Considerando que a palavra está sempre em busca de uma resposta, conforme ensina Bakhtin, este livro pretende fomentar o diálogo e o reconhecimento das pesquisas desenvolvidas nos diversos campi do IFPR e colocar a palavra no lugar que lhe cabe: de eterno movimento.

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26 August 2022