Diálogos entre CTS e Educação Profissional e Tecnológica: Caminhos e Contribuições de Pesquisa

Autores

Cíntia de Souza Batista Tortato
Instituto Federal do Paraná
Lucas Barbosa Pelissari
Instituto Federal do Paraná

Sinopse

A presente coletânea é destinada a todos/as os/as envolvidos/as com a Educação Profissional e Tecnológica (EPT): docentes, servidores técnico-administrativos, estudantes e comunidades escolares em geral. Resultados de pesquisas desenvolvidas entre os anos de 2017 e 2020 no Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade (PPGCTS) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR), os capítulos apresentam uma possível visão sobre a EPT brasileira a partir da perspectiva interdisciplinar CTS.

Trata-se de um conjunto de artigos que compartilham conhecimentos produzidos no âmbito do PPGCTS, reforçando o caráter público e democrático da pesquisa desenvolvida na pós-graduação do IFPR e, em especial, no Campus Paranaguá. A socialização desses novos conhecimentos é fundamental para ampliar a discussão sobre a EPT brasileira, sua história, princípios e desafios. Além disso, os textos contribuem para lançar novos olhares e construir aportes teóricos originais para a pesquisa sobre a educação profissional, apresentando como chave analítica as relações dinâmicas entre Ciência, Tecnologia e Sociedade trazidas à tona pelos estudos CTS.

As características dos artigos são diversas: reflexões conceituais sobre as relações entre trabalho e educação, possibilidades de mobilizar o leito teórico CTS para compreender fenômenos vinculados à EPT, análise de casos específicos e temáticas fundamentais para se pensar a educação profissional hoje, como, por exemplo, gênero e educação inclusiva. 

O primeiro capítulo, de autoria de Lucas Barbosa Pelissari, analisa a relação entre a EPT e a categoria desenvolvimento. As reflexões possuem como eixo articulador a crítica advinda dos estudos CTS, mais especificamente do projeto nacional democrático-popular formulado pelo Pensamento Latino-americano em CTS (PLACTS). Parte de uma breve revisão bibliográfica sobre a questão do desenvolvimento no campo de estudos Trabalho-Educação, diagnosticando a fragilidade do tema nas
elaborações sobre a educação profissional. Além disso, analisa as mudanças mais recentes ocorridas nas políticas públicas de EPT no Brasil, situando-as na conjuntura político-econômica mais geral do país. Com sso, identifica os limites da relação EPT/desenvolvimento quando não inserida em projetos que construam alternativas regionais autônomas e soberanas para a cultura, a ciência e a tecnologia de nações dependentes. Apresenta, como alternativa, a crítica elaborada pelo PLACTS ao discutir o papel da participação popular no âmbito das políticas públicas de educação, de ciência e tecnologia (C&T) e de pesquisa e desenvolvimento (P&D). 

O segundo capítulo, escrito por Fabíola Soares Arcega e Bruna Ronconi de Nazareno, discute conceitualmente a relação entre educação e trabalho no Brasil, possibilitando um diálogo original entre o campo de estudos Trabalho-Educação e a perspectiva CTS. Após uma apresentação da matriz teórica que fundamenta este campo e um recorrido histórico sobre o tema, as autoras discutem transformações recentes na política de EPT, procurando compreender possibilidades e fragilidades no enfrentamento do panorama estrutural de desigualdade educacional vivido pela formação social brasileira.

Cíntia de Souza Batista Tortato e Josiane de Souza Surmani trazem, no terceiro capítulo, algumas relações entre educação profissional, CTS e gênero. A partir de um posicionamento crítico, as autoras verificam como importantes vertentes feministas do campo CTS vêm questionando a construção da ciência. Entre esses questionamentos, a não neutralidade da ciência evoca a percepção das questões de gênero na exclusão histórica das mulheres e na correspondente associação de capacidades atreladas a gênero na constituição dos variados campos do saber científico, tecnológico e profissional. Dessa forma, o capítulo lança elementos para compreensão da chamada divisão sexual do trabalho que se manifesta no campo da educação profissional e precisa ser problematizada.

O quarto capítulo, escrito por Fabiana Ribeiro da Silva Ramos e Sidney Reinaldo da Silva, trata de uma discussão sobre diretrizes curriculares do Ensino Médio integrado a partir de uma interlocução com o campo de estudos CTS. Tema de extrema relevância no cenário da educação básica atual, o estudo apresentado procura estabelecer as relações entre o Documento Base orientador dos princípios do Ensino Médio Integrado e o campo CTS, no que relaciona com indissociabilidade a formação humana e as dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. Trabalho como princípio educativo e concepções de ciência e tecnologia são analisados de forma crítica sob a perspectiva de CTS, buscando compreender a forma com que são propostas as diretrizes curriculares e qualificando a discussão sobre alternativas possíveis para o momento atual.

Abordagem CTS por meio da modelagem computacional em cursos federais de Engenharia Mecânica, título do quinto capítulo, escrito por Mateus das Neves Gomes e Rodrigo Costa Batista, apresenta um estudo sobre a composição curricular a partir da modelagem computacional. Colocando a recente entrada dos Institutos Federais na oferta de cursos de Engenharia Mecânica, juntamente com Universidades públicas e privadas, os autores abordam a expansão e as problemáticas em torno das composições dos currículos relacionados. Apresentam, com isso, as possibilidades da utilização da modelagem computacional não só como ferramenta de aprendizagem, mas como área de interlocução com abordagens CTS. Essa interlocução considera a possibilidade de uma formação em engenharia para além da técnica, abrangendo pressupostos humanistas, críticos e reflexivos. O trabalho traz as análises dos currículos e aponta posicionamentos sobre a formação em Engenharia Mecânica no universo pesquisado.

No sexto capítulo, Sidney Reinaldo da Silva e Kellen Smak apresentam reflexões substanciais a respeito da gestão da educação profissional no Brasil, a partir de análise do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego (Pronatec). Após revisitar o estado da arte da educação profissional no Brasil, constatam que a ampliação da oferta de vagas foi condição sine qua non para a garantia das metas do Plano Plurianual (PPA) do governo federal, a partir do ano de 2011. No entanto, mobilizando de maneira criativa o ferramental teórico CTS, concluem que a gestão do ensino técnico no âmbito do Pronatec, frente à oferta de
vagas em parcerias público-privadas, não tem condições de atender ao requisito da gestão democrática.

Por fim, o sétimo capítulo, de Alysson Ramos Artuso e Maria Zildomar de Lima e Silva, oferece uma importante reflexão envolvendo CTS e educação inclusiva. A partir da compreensão do lugar da educação inclusiva diante dos pressupostos e desafios da educação brasileira, os autores fazem paralelos entre esta e o campo de estudos CTS. A leitura traz um pouco da história do campo CTS como um corpus de estudos, pesquisas, reflexões e posicionamentos críticos diante do desenvolvimento tecnológico e científico, alertando para a desumanização de processos e abordagens que envolvem a educação. Os autores retomam a perspectiva brasileira destacando três grandes linhas na trajetória dos estudos CTS: pesquisa, políticas públicas e educação. Em seguida as conexões são traçadas retomando pontos fundamentais sobre a construção de CTS, sua(s) abrangência(s), possibilidade(s), deslocamento(s), construções e posicionamentos de ordem econômica, social, ambiental e política. Os
autores colocam a questão da educação inclusiva como um dos pilares da forma com que a área de CTS pensa a educação e insere uma perspectiva de formação da cidadania. Nesse sentido, contribuem de maneira profícua para reflexões sobre a inclusão no âmbito da educação profissional.

Todos os trabalhos compõem um esforço mais amplo de pesquisa em CTS que vem sendo desenvolvida no litoral do Paraná. No segundo semestre de 2017, foi iniciada a primeira turma do Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade (PPGCTS) do IFPR Campus Paranaguá. Desde então, todos que participam do programa, sejam docentes, estudantes, convidados ou colaboradores, têm construído coletivamente abordagens, metodologias e análises que participam da constituição do campo de CTS com perspectivas regionais e globais articuladas. Tem sido um desafio e uma grande responsabilidade construir esse
projeto, que produz impactos sociais, culturais, científicos e econômicos diretos na região. Esperamos que a leitura desafie e seja um convite para essa grande empreitada que é fazer ciência, educação e democratizar saberes.

Cíntia de Souza Batista Tortato
Lucas Barbosa Pelissari

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Publicado

6 July 2022