Horizontes em Tecnologia, Ensino e Sociedade: Diálogos Interdisciplinares em Linguística Aplicada

Autores

Rodrigo Esteves de Lima Lopes
Universidade Estadual de Campinas
Maristella Gabardo
Instituto Federal do Paraná

Sinopse

Quanto mais caudaloso e turbulento o rio, mais água corre por seus afluentes, mais nutrientes ele carrega e mais aluvião ele consegue arrastar em suas águas. Troncos, folhas, raízes e demais elementos da natureza se juntam em suas águas, completando-as e formando um movimento contínuo da matéria que traz transformação e fertilidade por onde passa. Assim são as interfaces das ciências que formam esse livro. Trazem consigo nutrientes que geram a fertilidade da área, que são carregados pela força da sua ciência que consegue congregar diversos conhecimentos de outras ciências em si. A Linguística Aplicada  quando encontra com a Educação e a Tecnologia já não é mais um afluente, mas consegue formar um rio extenso, cheio de conhecimentos e reflexões que compõe o cerne dos temas apresentados nesse livro. Da mesma maneira, os temas e enfoques apresentados aqui partem de diferentes pressupostos, vertentes e apresentam olhares diversos sobre os temas da linguagem e quais são as suas contribuições para os ambientes formais de ensino.

Este livro traz em si aspectos da Linguística Aplicada que se misturam intrinsecamente com a educação e a tecnologia. Faces indissociáveis dos objetos aqui selecionados. Dentro desse contexto, o objetivo final desse volume é discutir como o uso da tecnologia e das diferentes mídias pode, e até certo ponto, deve, estabelecer um diálogo com a educação linguística. Acreditamos que o ensino de línguas tem muito a ganhar com tal aproximação, especialmente porque é possível a ela se achegar às práticas de linguagem cotidianas, nas quais os diferentes letramentos (ou literacías) efetivamente são necessários. Buscamos construir uma linguística que, como colocam Martin (2016) e Matthiessen (2012), seja aplicável ao mundo, promovendo transformações e deslocando a linguística para o lugar de ciência social aplicada (STUBBS, 1996).

Os capítulos presentes neste livro refletem tal visão. Cada um deles parte de um diferente impacto social da tecnologia, tendo o ensino e as diferentes potencialidades de construção da cidadania como seus pontos abalizadores. Por conta disso, “Horizontes em Tecnologia, Ensino e Sociedade: Diálogos Interdisciplinares em Linguística Aplicada” está dividido em duas partes. Na  primeira estão concentrados artigos de caráter teórico, que refletem sobre as aproximações da Linguística Aplicada (LA) como tema geral do volume. Na segunda, há a presença de textos de caráter aplicado. No que tange aos pesquisadores aqui  envolvidos, eles possuem uma origem diversa, em um contexto no qual educadores, linguistas e comunicólogos refletem juntos sobre as temáticas centrais propostas por cada artigo. 

O volume abre com o texto de Lima-Lopes, cujo objetivo principal é refletir sobre questões de tecnologia, mídia e ensino de
língua de forma a propor uma quebra do fetichismo que tradicionalmente ronda o tema. Na forma de proposições independentes, que podem ser lidas em qualquer ordem como um hipertexto, seu trabalho observa alguns temas recorrentes na LA de forma a realizar um resgate crítico e histórico de cada um deles. O ponto-chave de seu argumento é que a tecnologia sempre esteve lá, apesar de, nem sempre, ter sido percebida como tal. Dita falta de percepção pode levar a um deslumbramento do digital e do técnico, sem que haja uma real reflexão sobre seus potenciais de construção de significados dentro e fora da sala de aula. Segue o trabalho de Gabardo, cujo foco está nas possíveis aplicações da educação para os meios ao ensino de línguas. Seu ponto está em questionar em que medida as práticas midiáticas podem auxiliar no desenvolvimento de ações de ensino que se pautem por metodologias ativas. O trabalho com as diferentes expressões midiáticas seria então um caminho para o
aprendizado da língua e da cidadania, na qual as diferentes linguagens se coadunam para o aprendizado significativo.

Lassalvia, por seu turno, reflete sobre os processos de aprendizagem ao longo da vida. A autora busca uma reflexão
complexa na qual as transliteracias são o ponto de partida. Uma vez que no mundo contemporâneo a liquidez da informação, dos
relacionamentos e das práticas de linguagem deve nos levar a aprender a navegar pelo incerto, não há sentido em construir uma
educação meramente tecnicista. Para a autora é preciso pensar o indivíduo como um ser em constante construção que aprende 
em sua interação com as diversas mídias e com o mundo, cabendo à educação auxiliar na construção desse indivíduo que busca e
aprende constantemente. 

A primeira parte se encerra com o artigo de Souza. A autora faz uma importante reflexão sobre como os espaços tecnológicos contemporâneos possibilitam discussões que não ecoam tradicionalmente na mídia de massa. Souza tem sua reflexão centrada no universo da luta da mulher, em especial no feminismo, demonstrando como essa tomada de espaço é um elemento importante para reflexão e denúncia de iniquidade sociais, possibilitando um protagonismo outrora negado. Algo caro a todos
que refletem sobre os processos de democratização propiciados pela comunicação em rede.

A segunda parte abre com o trabalho de Canzini e Korelo que refletem sobre uma experiência educomunicativa realizada no Instituto Federal do Paraná. Os autores narram um projeto de rádio realizado na modalidade extensão, mobilizando alunos e
a comunidade em projeto de aprendizado cidadão. Organizado em diferentes fases, o projeto evolui de forma a engajar os alunos em um aprendizado ativo e significativo.

Os três capítulos que se seguem tem seu foco no meio digital e nas interações propiciadas por ele. Câmara e Pimenta estudam o colorismo em comentários feitos por internautas em um canal do Youtube. Os autores partem da Linguística Sistêmico-Funcional, com ênfase na teoria da avaliatividade, como forma de compreender como os diversos internautas reagem ao discurso de um vídeo cujo tema central é a questão racial.

O artigo de Mercuri tem seu tema centrado nos linchamentos virtuais. A autora reflete a importância de ações de letramento crítico para uso responsável das diferentes mídias sociais por meio de exemplos retirados das discussões políticas de 2018. O volume é fechado pelo estudo de Barbosa. A autora parte da Revista FAPESP, um periódico impresso de divulgação científica mantido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, de forma a compará-lo com seu sítio da internet. A autora traz importantes reflexões sobre os processos de ressemiotização, discutindo a forma como os diferentes modos de linguagem são instanciados. 

Por fim, é preciso agradecer àqueles que de forma direta ou indireta possibilitaram a publicação desta obra, que jamais teria
se tornado real sem a contribuição graciosa dos autores e do apoio a nós dado pela Editora do Instituto Federal do Paraná.

Esperamos que sua leitura seja tão prazerosa como foi para nós o processo de organizar este livro.

Rodrigo Esteves de Lima-Lopes
Maristella Gabardo

 

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Publicado

14 April 2021