Fábrica Escola de Detergentes: Ensino, Pesquisa e Extensão

Autores

Edneia Durli Giusti, Instituto Federal do Paraná; Sandra Inês Adams Angnes Gomes, Instituto Federal do Paraná; João Paulo Stadler, Instituto Federal do Paraná; Samara Geremia; Fabiana Kuiava Signor; Viviane Aparecida de Souza dos Santos; Graziele Del Sent da Silva

Sinopse

Segundo Borsato et al. (2004), no Brasil, a indústria saboeira nasceu de uma forma bem simples, empregando o sebo de porco para a produção dos sabões. Porém, os produtos nacionais possuíam qualidade inferior aos de Portugal, onde a indústria era bem qualificada. As primeiras indústrias se instalaram na região de São Paulo e no Nordeste, localizadas próximas à indústria de óleo de coco, da qual as indústrias saboeiras recebiam os resíduos industriais para produzir o sabão. O aparecimento dos detergentes ocorreu em 1907, quando foi iniciada a utilização de matérias-primas como o perborato de sódio (NaBO3), silicato de sódio (Na2SiO3), carbonato de sódio (Na2CO3) e o ácido sulfônico (R-SO3H). Este último é muito utilizado para fabricar o detergente, por ser um tensoativo que se dissolve bem na água e em gorduras.

  Com tantas evoluções em termos de qualidade e sustentabilidade, assim como inovações, a indústria saboeira vem se destacando cada vez mais no processo de fabricação. Portanto, podemos obter o produto com a utilização de vários recursos, até mesmo com matérias-primas recicláveis, como o soro de leite e o óleo residual de frituras. Essa atitude beneficia o meio ambiente, fazendo com que os subprodutos que seriam descartados sejam utilizados como matéria-prima de qualidade para um produto de uso diário.

  O soro de leite é o líquido remanescente da precipitação e remoção da caseína do leite, sendo, portanto, um subproduto resultante da fabricação do queijo. Tecnicamente chamado de lacto soro, seus principais componentes são: a lactose (4,5% - 5,0%), as proteínas solúveis (0,6% - 0,8%), os lipídios (0,4% - 0,5%) e os sais minerais (8,0% - 10,0%), de acordo com SISO (1996), citado por Leindecker (2012). Sua composição pode variar de acordo com o procedimento adotado para separação da caseína, podendo-se obter dois tipos de soro: o soro ácido (pH < 5,0) e o soro doce (pH 6,0 – 7,0).

  O soro de leite é um subproduto de importância relevante, tendo em vista o volume produzido e também sua composição nutricional. Em média, a fabricação de 1 kg de queijo necessita de 10 litros de leite e fornece 9 litros de soro. Considerando, então, que a produção de queijos no Brasil está em torno de 450 mil toneladas por ano, tem-se o equivalente a 4,50 mil toneladas de soro produzidas no mesmo período (COSTA, 2012; SANTOS et al., 2012).

  O soro de leite pode ser abordado sob dois aspectos: como agente de poluição, se considerado produto descartável, visto que a descarga de soro em recursos de água pode provocar a destruição da flora e da fauna devido à sua alta demanda bioquímica de oxigênio (DBO); ou como produto nobre, devido ao seu teor de proteínas ricas em aminoácidos e gorduras (NEVES, 2001 apud LEINDECKER, 2012). Devido ao alto teor de gordura presente no soro de leite, este pode ser empregado em processos de saponificação, pois sua composição conta com ácidos graxos e ésteres graxos que podem reagir com bases fortes (tais como hidróxido de sódio ou de potássio) para formar sais, denominados sabões. Por apresentarem extremidades carboxílicas altamente polares, esses sabões tendem a se dissolver na água, minimizando, dessa forma, o impacto ambiental.

   Além do soro de leite, esta obra também apresenta os problemas em relação ao descarte inadequado de óleo residual de frituras. Essa prática acarreta uma crescente preocupação com o meio ambiente, pois o aumento do uso de óleos vegetais, frequentemente utilizados em frituras, produz danos quando despejados pelo ralo da pia, provocando o entupimento das tubulações nas redes de esgoto. Estima-se que um litro de óleo de cozinha descartado em um corpo hídrico contamine cerca de um milhão de litros de água, ou seja, o equivalente ao consumo de uma pessoa em um período de 14 anos. Os ambientalistas concordam que não existe um modelo de descarte ideal do produto, mas, sim, alternativas de reaproveitamento do óleo de fritura para a fabricação de biodiesel e sabão, por exemplo. O processo de saponificação, bem como a vantagem da reciclagem do óleo residual, apresenta-se como uma forma de trazer benefício ao meio ambiente e aos seres que nele habitam (PERREIRA et al., 2010).

  Nesse cenário, acredita-se que são cada vez mais necessários trabalhos de pesquisa e projetos extensionistas que visem a orientar e alertar a comunidade sobre a importância de cuidar, preservar e utilizar os recursos naturais e resíduos ponderadamente.

  A falta de consciência e, muitas vezes, de informação por parte da população faz com que o óleo residual de frituras seja descartado em locais inadequados, como nos rios e no solo. Nesse sentido, é evidenciada a importância das ações que visam a um trabalho de sensibilização da comunidade, que pode ser articulado com o Ensino de Ciências nas escolas da Educação Básica.

  Dentre as possibilidades de reaproveitamento do óleo residual de frituras, podemos citar a confecção de tintas, cosméticos, detergentes e biodiesel. Uma alternativa muito simples, que pode ser realizada de forma doméstica e sem a necessidade de grandes equipamentos, é a produção de sabão ecológico, tanto em barras quanto líquido (MONARETTO e DALLA COSTA, 2012).

  Nenhuma escola, nenhum sistema educacional será melhor do que a qualidade e a habilidade do professor. Porém, sua prática pedagógica dependerá de três fatores: qualidade básica, habilidade pessoal e preparo teórico e prático. No entanto, o quadro que a escola pública apresenta em relação às aulas ministradas pelo professor de Química é desanimador, considerando-se a falta de laboratórios, materiais e reagentes; o número reduzido de aulas; e a falta de incentivo para o aperfeiçoamento específico. Além disso, reconhece-se que é preciso reformular o Ensino de Química nas escolas, visto que as atividades experimentais são capazes de proporcionar um melhor conhecimento ao aluno, revelando a importância delas para o ensino das disciplinas.

  Este livro apresenta uma alternativa para atividades diferenciadas de ensino, a partir da produção de sabões articulada com o conteúdo da Química. Essa proposta tem como objetivo principal motivar o professor da disciplina a conduzir um trabalho diferenciado, que resgate o interesse do estudante e estimule sua aprendizagem, aproximando-o do real e dando significado ao conhecimento.

 

Edneia Durli Giusti Sandra 

Inês Adams Angnes Gomes 

João Paulo Stadler

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Publicado

6 November 2020